Maria é o meu coquetel, sem ela estaria lá no São João Batista sofrendo o frio e a eternidade. Ela passa por cima da AIDS e a transforma numa doença banal, como todas as outras, que mata do seu modo e às vezes até mais rápido. Ela é um coquetel sem efeitos colaterais.
Um dos maiores problemas da AIDS é o sexo. Ter relações com todos os cuidados ou não ter? Todos os cuidados são suficientes, e seguros, ou contêm riscos que não se deve correr com a pessoa que se ama?
Passamos por todas as fases, desde o sexo com uma e duas camisinhas, até sem nenhum, só carinho. Preferi a segurança total ao mínimo de risco. Parei, paramos e sem dramas, com carências, mas sem dramas, como se fosse viver contrariando tudo que aprendemos como homem e mulher. Vivemos a sensualidade da música, da boa comida, da literatura, da invenção, dos pequenos prazeres e da paz. Descobri que é possível e que se pode esperar o dia da cura para se voltar àquelas noites. Tomara que a cura venha a tempo. Viver é muito mais do que fazer sexo, temos milhares de órgãos sexuais espalhados por toda parte e não só onde quase todo o mundo pensa que está localizado.
Mas para se viver isso é necessário que Maria também sinta assim e seja capaz de viver essa metamorfose, como foi.
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